12 de dezembro de 2025 às 09:03
Crise do leite se agrava no Rio Grande do Sul: preços em queda, endividamento alto e dificuldades de acesso ao crédito pressionam produtores

O setor leiteiro do Rio Grande do Sul enfrenta um dos períodos mais críticos dos últimos anos. Com a queda contínua no valor de referência e o avanço do endividamento, agricultores familiares relatam crescente dificuldade para manter a produção. Em outubro, o preço médio pago ao produtor gaúcho ficou em R$ 2,21 por litro, retração de 4% em relação ao mês anterior, aprofundando o desequilíbrio entre custos e receita no campo.
Diante do cenário, o governo estadual lançou o
programa Bônus Mais Leite, uma
subvenção financeira destinada a apoiar agricultores familiares que atuam na
cadeia leiteira. O investimento anunciado é de R$ 10 milhões, vinculado a
operações contratadas pelo PRONAF (Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). O objetivo é
qualificar e fortalecer a produção, estimulando melhorias estruturais e alívio
temporário do fluxo financeiro.
Para acessar o programa, o produtor precisa
atender a requisitos como vender leite cru para indústrias, cooperativas ou
queijarias legalizadas, possuir agroindústria própria regularizada ou ter o CAF (Cadastro Nacional da Agricultura Familiar)
ativo. Cada unidade familiar poderá contratar uma operação de custeio e uma de
investimento, ambas com bônus de 25% sobre o valor financiado.
No custeio,
o limite de subvenção é de até R$ 5 mil, abrangendo itens como produção de
alimentos para animais, compra de insumos, ração e despesas com sanidade
animal. Já para investimentos, o
limite sobe para R$ 25 mil, contemplando irrigação, sistemas de armazenagem de
água, melhorias de manejo de solo, aquisição de máquinas, equipamentos e
estrutura para ordenha.
Apesar da iniciativa, produtores afirmam que o
maior entrave permanece: o crédito não chega a quem mais precisa. O alto nível
de endividamento tem barrado operações do crédito rural, travando também o
acesso ao próprio programa de subvenção. Muitos relatam que, mesmo com direito
a renegociações previstas em normativas do crédito rural, bancos têm resistido
em acatar pedidos de prorrogação de dívidas, exigindo que o produtor busque
assessoria jurídica.
Especialistas em direito do agronegócio
lembram que o produtor que recebe por dois ou três meses seguidos abaixo do preço mínimo estabelecido pela CONAB — atualmente em R$ 1,88 por litro
para os três estados do Sul — pode solicitar prorrogação ou parcelamento de
financiamentos ligados à atividade leiteira. Embora o preço mínimo exista na
política de garantia de preços, na prática ele não assegura compensações
diretas ao produtor, tornando-se apenas um referencial teórico.
Para lideranças rurais, o setor precisa de
respostas mais efetivas. Há críticas de que medidas anunciadas não se convertem
em ações concretas no tempo necessário para evitar o abandono da atividade.
Produtores destacam ainda que o modelo atual, marcado por anos alternados de
alta e baixa no preço do leite, já não sustenta a cadeia a longo prazo.
Enquanto
isso, a realidade no campo permanece dura: custos elevados, clima instável,
receita em queda e um crédito que continua distante da base produtiva. Sem
mudanças estruturais e políticas permanentes de suporte, a crise tende a
reduzir ainda mais o número de produtores de leite no Rio Grande do Sul,
colocando em risco toda a cadeia que sustenta milhares de famílias no Estado.
Fonte: CLIENT